segunda-feira, 19 de maio de 2008

elogio à Banana por Ferreira Fernandes

Caros leitores,

É com um grande sorriso que vejo que, apenas com uma semana de vida, já tenho alguns leitores assiduos do meu blog. Como já referi, já há muito tempo que não escrevia e, principalmente, diários (creio que a ideia original do blog são os "diários virtuais", certo?) - confesso esta ideia de diários até me assustam um pouco nos dias de hoje... só a ideia de manter um compromisso de escrever, de ler, etc, já é complicada! E se for um compromisso diário ainda pior!
Por isso só espero realmente conseguir manter, isso sim, uma assiduidade relativa ao escrever pelo menos uma vez por mês neste blog - esta foi a minha promessa inicial e este mês já a cumpri! Como sabemos, o trabalho, o ginásio e a vida social rouba-nos muito tempo. Vai ser uma promessa dificil de cumprir, principalmente quando já se sonha com umas férias longe de Portugal, sem computadores, sem televisão e, sobretudo, sem telemóveis.

Bom, desta vez não vou escrever nada meu... vou apenas apresentar um texto que achei 'hilariante' e bastante cómico do jornalista Ferreira Fernandes.

E não é que ele até tem razão?

"Por causa do preço do petróleo subiu o dos vegetais e estes tornaram-se vedetas dos noticiários. Nunca se falou tanto do arroz ou do milho. Esta crónica serve para cumprir uma gratidão: apesar da actual notoriedade dos outros, há um alimento agrícola que continua no anonimato. Pior, quando se fala dele ou é com malicioso piscar de olho ou é com desprezo. Falo evidentemente da banana. Da banana que serve de letra para Quim Barreiros ou para classificar repúblicas indignas. E, no entanto, com o arroz, o milho e o trigo, a banana é o quarto espadachim dos alimentos mosqueteiros que matam a fome ao mundo.Também eu não dava por ela, a banana. Ansiava por Maio ou Setembro, quando os barcos que aportavam em Luanda me traziam cerejas ou uvas (em cestos com a fruta acamada em folhas de videira); ansiava por Dezembro, quando subia à mangueira do quintal para encher os dentes de fios e a boca de prazer. E da banana, quando? Não sei pela mesma razão que não se diz que a época do ar está a chegar. Comi bananas como se respira, sem dar por ela. Cinquentão, estou nas minhas 15 mil bananas.Quando eu era garoto, havia uma colecção chamada "Ídolos do Desporto". Biografias quase sempre de futebolistas. Não se sei se Koczis ou Czibor ou Puskas, um desses húngaros da equipa mágica de 1954 que desertaram para Espanha, um deles. Na biografia, contava-se que a ele, chegado a Espanha, ofereceram uma banana. Apalpou a casca fina, equiparou-a a maçã ou pêssego e mordeu tudo. Foi aí que me dei conta que a banana era, por ser rara ou mesmo insólita para alguns, alguma coisa mais do que uma presença certa.Continuei a comê-la como sobremesa, seca e do vale da Catumbela como guloseima, plátano, grande e frita, para acompanhar pratos com azeite de dendém, sem dar por ela. No meu bairro ela era dos raros bens democráticos. Quando eu ia futebolar em campos de brinca-na-areia que viram nascer Jacinto João, José Maria, Dinis, Conceição e eu próprio (sendo que eu próprio, ao contrário dos outros, sou o único que se lembra disso), a banana era o alimento energético trivial. Na minha casa ela entrava em cacho; nas estradas para o mato, eu via gente descalça a comê-la. Em Portugal desglobalizado, antes e logo a seguir ao 25 de Abril, ela foi fruto de luxo. Mas as coisas recompuseram-se, tornamo-nos um país comum e as bananas democratizaram-se. Hoje, no mercado, está a um euro o quilo, a metade e a um quinto dos morangos e cerejas, frutas da época. A banana não nos preocupa e, por isso, não falamos dela. Já a Bíblia não falou. Preferiu criar a fama de outro fruto, menos universal, fazendo-o proibido. Hoje, para se falar de um atributo masculino bíblico, diz-se "maçã de Adão". É irónico e tudo para esconder a banana."

:)

2 comentários:

rfranco\\ disse...

antes de + nada... VERY DE BIEM!!! parabiens plo blogui... já adicionei o link ao meu. be se fazes lo mesmo, si vous apetecer;) beijões do cousin richie***

in-sano.blogspot.com

Anónimo disse...

E sempre bom ver que nem todos tem complexos e vergonha de falar de tao belo fruto. Banana. Que palavra tao bonita. So de a dizer fica-se logo com a boca cheia. BA-NA-NA :p :p :p
Certamente que estavas a pensar no terceiro milagre de Fatima quando te ocorreu escrever sobre este tema. ;)

Em relacao aos jogadores hungaros, a razao de eles nao conhecerem a banana e porque aqui a fruta e outra...

Por agora viva a banana. Em especial a minha, que apesar de nao ser da India, Brasil, Colombia ou Equador tambem e internacional ;)

P.S. Fico a espera que mais frutas e vegetais aparecam por aqui :D